domingo, 15 de novembro de 2009

Hoje descobri um cd muito legal e fui procurar saber sobre o resto da obra musical de seu autor. Quando encontrei um site - o único sobre ele - subitamente cliquei. E, bom, o site não estava mais disponível.

Não sei se por causa desse evento, um tanto insignificante para tantos, falar sobre o cd Follow The Elephants, de Aaron Thomas, aqui no blog me pareceu interessante. Mas também pode ser que não seja esse o meu verdadeiro motivo pra estar aqui, depois de tanto tempo sem conseguir - e nem ousar - escrever coisa alguma. Talvez seja porque tenho, nesse momento, em minhas mãos, um formulário para preencher. Um simples formulário de papel a4 preto e branco. Mas com um peso que, digamos, é, no mínimo, singular.

Um peso singular.

Acho que ele me amedronta, completamente. E acho que o fato de vir aqui escrever hoje tem a ver com o fato de ter que superar certos medos menores - como o medo de escrever e não conseguir, efetivamente, escrever - para conseguir superar o peso dessa folha.
Ou desse papel.

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Bom, mas vim pra falar do cd... e, como não falei, deixo a dica. www.porcariasonora.blogspot.com

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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Essa tal de palavra parece ter me deixado ao léu; a sós comigo mesma.
Numa estrada, em que a terra quente denuncia o sol que queima meu corpo.

Essa tal de palavra parece ter me deixado muda, sem fala, sem ela...
[Como ela?]

E aí, eu parei. Parei de tentar encontrar a palavra certa pra isso, ou para o que não é o isso. Parei porque visitei um dia meu corpo e me vi no espelho; e me senti vista por mim - eu me vi.
Parei porque percebi que estava ao léu e a sós de qualquer forma. Mas meus pés, eles me gritavam por uma terra que não fosse tão quente assim.

Ou talvez por um sol que não queimasse tanto assim.

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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sutilezas II

Havia saído pra escrever sobre filosofia.
Mas, naquele momento, naquele exato instante - súbito e volúvel - consegui sentí-la tocável.

Havia chegado na praça - cheia como em qualquer tarde de folga, onde as pessoas transmitem aquela hipocrisia que costumam denominar 'alegria'.

Mas, bom, tendo cá comigo a minha música e minhas folhas em branco, me viro.

Foi quando olhei para frente. Uma imagem que, mesmo que tente descrever por estas linhas; mesmo que haja reproduções e figuras num papel dessa imagem; mesmo que tudo isso fosse feito, não é possível que haja alguma forma de expressar o que eu realmente vi.

Era uma árvore grande, tal um ipê, intensamente cor-de-rosa.
Cor-de-rosa de rosa de ipê.
E todo esse rosa, a se derramar pelo gramado macio, se espalhava, espreguiçando-se em múltiplos e vivos "rosas" de flores de ipê. E toda a grama verde quase se perdia naquele mar de flores caídas sobre ela e subindo sobre a imensa árvore de cachos cor-de-rosa.

Aí, pensei: Acho que aquele banco ali do lado é um bom lugar.

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"And the 'cotton'...
Cotton's high, Lord,
so high."
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segunda-feira, 15 de junho de 2009

.Flush.

*Flush= rubor, resplendor.

Era uma grama macia. Eram soldados gritando 'Span! Span!'. Eram cheiros livres, de vento, de sol, (e,mais uma vez, de grama macia) que se tornaram odores de eau de cologne num escuro quarto mofado.

Foram sensações ilimitadas - pois que eram sensações libertas das correntes da linguagem. Foram experiências marcadas pela corrente da coleira; pelo escuro quarto mofado; pelo horror daqueles dias de prisão: sem água limpa e sem afeto. Mas, não, ele nunca foi impedido pela coleira do discurso.

Os, cheiros, os gostos, as reações alheias e os insights instintivos se entrecruzam e se transformam num emaranhado de possíveis experiências posteriores, já que produzem um tipo de raciocínio selvagem. Raciocínio não no sentido humano; mas no âmbito da causalidade, de uma causalidade natural e intrínseca aos animais - a todos eles. Que se apóia no agir instintivo; agir que aprende com as experiências passadas e acostuma-se aos efeitos das causas já percebidas.

Pensar sobre as sensações de um ser distinto do ser humano incomoda - pensar sobre algo que ultrapassa as fronteiras da linguagem é desafiador para um simples indivíduo mundano e humano.

Mas a causalidade natural que se apóia nos instintos ainda repousa nos seres humanos, ainda pesa muito na balança (e quem sabe até pesa mais que essa dita razão?). E o instinto, nesse momento, me manda arriscar; me manda entrar nessa mata, nesse selvagem que é o não-humano. Onde nunca poderei alcançar concreta e realmente.

Mas, bom, se ainda puder encostar a mão naquela lisa e fina superfície que nos separa tanto do selvagem, do não-pensar humano - ou do pensar não-humano? -, se ainda puder...

Que o acaso me guie.

(E que o rubor de Flush me faça sentir viva.)

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domingo, 24 de maio de 2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Sutilezas.

Sabe quando um dia que você vive parece ser uma data familiar, como se há tempos atrás, no mesmo mês e dia, algo significativo de alguma forma acontecera?
Mas, o que? O que é esse "algo" familiar?; é só um dia como os outros.

Sabe quando, numa conversa interessante, de repente as duas pessoas pensam na mesma coisa no mesmo instante? É como uma troca que se mistura. Uma linha que começa a se costurar partindo de suas pontas, e cada ponta sai de um dos dois indivíduos. E aí essas pontas crescem, crescem, até que uma ponta alcança aquela outra ponta da linha. E ambas se entrelaçam, se prendem, se costuram.

E se tornam uma só linha.

Uma linha que é tua e que é do outro, naquele exato e único momento. Ou talvez não chegue nem a um momento. É como se isso tudo, toda essa troca misturada acontecesse num meio-momento; num décimo de átimo de segundo, inconcebível pelos próprios sujeitos que se deparam com tal experiência.

Mas, enfim... acontece. 'Entre linhas'.

(como o céu estrelado lá fora - é única a sensação de se surpreender todo dia com um céu que se vê todo dia.)


terça-feira, 19 de maio de 2009

Olhar.

"I dreamt to something last night in my sleep.
I saw you sittng in a room without me.
you smiled and you had a tattoo,
of me - in a room withou you."

Essa música me veio depois de um dia cheio de nada palpável. Com um cheiro ligeiramente familiar e com um olhar que tinha se escondido bem dentro de mim, lá dentro mesmo, onde eu não conseguia alcançar.

É porque tem muita bagunça por cima. Tem muito lixo; tem muita sucata estragando o que era pra ser bom. O lixo é só retirar, transferir, vagarosamente, pra outro lugar, que não o meu. A sucata tem que aquecer, em graus altíssimos de dor, de intensa e lenta dor, pra poder se derreter e se transformar no novo e no desconhecido que me traz o meu deus de volta pra mim.

O estranho é que embaixo disso tudo, mas ainda encima daquele meu olhar perdido, sobra um resíduo, um resíduo impregnante que dá a impressão de nó amargo na garganta. Uma cola - é como uma cola que ainda não secou, mas que se prega por todos os cantos em que encosta. E o meu olhar fica lá, se debatendo pra não se afogar e nem perder o fôlego nesse mar de resíduo impregnante que está à beira de se tornar apenas uma massa, cada vez mais dura e sólida.

É como a música diz. É como num sonho. É como se eu me visse num espelho.
E no meu reflexo (re)aparece sutilmente a tatuagem - reaparece sutilmente o meu verdadeiro olhar.
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terça-feira, 12 de maio de 2009

Reflexos.

É como não se reconhecer no espelho.
Olhar para a fronte, os cachos, a curva do nariz e não se reconhecer.

É como enxergar que minha boca está mais retraída; minha face mais pálida; meu olhar mais distante. Olhar aflito que aflige por ser vazio.

Minhas mãos já estão cansadas de segurar tanto cigarro; minha mente já não consegue distinguir a imagem do seu mero reflexo. E a cabeça, a minha cabeça gira num fluxo contínuo, permanente e ligeiro de pensamentos aleatórios e desconexos. Pensamentos desconexos que se ligam nessa dança paradoxal e contraditória; nessa dança envolvente e destoante.

Dança que me carrega no instante único e interminável da dormência.

A dormência... não, não quero falar dela agora.

(ela é o reflexo no espelho da minha constante dormência velada.)

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domingo, 10 de maio de 2009

Náusea.

Cheiro de rua; cheiro de gente.

O cheiro da rua é daqueles cheiros que se encontram em qualquer esquina escura. É do tipo carnal, mundano, humano. Que traz os aromas boêmios e beatos; frenéticos e pacatos.

O cheiro da rua é como o cheiro de um doce apimentado, levemente azedo, algumas vezes amargo. É como gosto de cigarro barato, que fica impregnado na boca, no cabelo, na roupa e nos poros.

O cheiro da rua é como cheiro de gente. É assim banal, assim volúvel, assim prático. Como num guichê em que a gente já compra a passagem sem precisar de enfrentar fila. E aí é só entrar nesse mundo imundo, que é o da rua, que é o de gente. Da gente.

(Cheiro de infernos, de vícios e sacanagens no estilo fast-food.)

E, sim, a gente ainda acha que gosta. Mas às vezes esse cheiro dá náusea, sabe?

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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Isso.

O que é isso?

É ânsia. Ânsia de descobrir todos os caminhos possíveis em que meu olhar alcance o infinito.
Ânsia de encontrar o final do arco-íris, e de sentir o vento que carrega meu corpo. Como um pássaro brincando com as asas. Ou até como folhas de papel... (em branco?)

É ânsia de correr, correr muito, descendo por um gramado. Correr até que as pernas não consigam acompanhar, e o resto de mim se atire na grama macia do espaço vazio que vem pela frente. No desconhecido espaço vazio.

É ânsia de enxergar todas as estrelas do céu, de ler todos os livros e falar todas as línguas do planeta.

Ânsia de engolir o mundo, inteiro e de uma só vez, mesmo que pra isso eu tenha que suportar o meu mundo – esse meu mundo repleto da ânsia de vômito, de asco e de pânico pela vida.

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domingo, 3 de maio de 2009

Ciclo: Ad Infinitum

Eu não sei o que dizer sobre isso tudo que sinto.
E isso só insiste em acontecer porque eu não sei o que sinto.
E quando eu sinto, eu já não sei o que eu digo que sinto.
Porque quando eu sinto, eu não sei o que dizer.

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Eu não quero deixar.

Não quero deixar esse fiozinho de luz, que insiste em entrar pela fresta da janela, para trás, como se fosse apenas dar as costas e desconsiderar. Porque o fiozinho de luz denuncia minha sombra na parede.

Não quero deixar esses livros pela metade, nem essas canções mal-cantadas, nem esses amores meio-vividos. Porque ir só até a metade faz acomodar, faz incomodar. Porque meio-viver fica impregnado em nós, que nem cheiro de fumaça. Pra gente se acostumar.

Não quero deixar minha força para trás, minha força de querer, minha força de me entregar sem força. Porque senão a gente perde o resquício de luz que um dia entrou pela janela, e fica no escuro.

E aí não tem meio-termo.

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Em branco.

Os cigarros acabaram e eu não tenho mais dinheiro. E aí eu resolvi fazer esse blog.

O sentido disso existe em algum lugar por aqui. Pode ser que esteja debaixo da cama, no meio de toda essa poeira grudada. Ou então dentro dos meus livros, dos meus discos; dentro de toda essa tralha que escondo nessas gavetas bagunçadas, nessa bagunça organizada das minhas folhas – de rascunho - em branco.

Folhas de rascunho em branco.

É como se toda uma existência se resumisse em folhas de rascunho em branco, que a gente guarda lá no fundo do armário pra nunca mais achar. E, tal em um rascunho, a vida se desenha – um rascunho sem possibilidade de ser passado a limpo, de ser revisado, de ser editado. Ele só é rascunhado pela vida - é involuntário.
Às vezes a gente sente vontade de ir lá e rabiscar todo o rascunho em branco, de colorir, de enfeitar, de rasgar até. Mas, onde?

Onde estão essas folhas mesmo?

(A folha de rascunho um dia fica amarelada, pode esperar.)

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A eternidade. Num momento.

É uma eternidade do tamanho da dor. (Ou uma dor do tamanho da eternidade de um momento?)
É maior que o mundo, e de tão, tão grande não consegue sair de nós – porque é maior que nós.
- Mas como é tão grande, se nós somos tão pequenos?
- É porque ela consegue ficar em nós, sendo tão maior que nós, e não consegue sair – justamente por não conseguir ultrapassar nossa porta, que é muito pequena.
É como se todo um mundo estivesse dentro de uma garrafa.
Essa garrafa se judiou para abrir a tampa. Se judiou, se exorcizou, se desesperou.
Para abrir uma ínfima tampa; um resquício de inocência perdida no meio da dor do mundo.

E agora me pedem pra exorcizar um mundo de dor. Um mundo que não passa pela minha insignificante – de tão pequena – porta.

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