domingo, 29 de janeiro de 2012

Lente embaçada


Os acontecimentos dos últimos tempos passam pela minha cabeça feito imagens de um filme inacabado. As imagens, armazenadas com esmero e minúcia em minha memória, retratam uma realidade cuja própria realidade se dissipará em breve. Observo todos os detalhes: a feição, o olhar, os cachos, a pele, a boca, as mãos. O cheiro fresco e suave. O silêncio, que me liberta da obrigação de falar com palavras. 

Afundo minha cabeça no travesseiro, tentando esconder o nó na garganta que sobe pros olhos, apertando-os com força contra o colchão e contra mim mesma, enquanto minha mente reúne as impressões de todos os meus sentidos e tenta reconstruir um quadro com o máximo de realidade possível. 

É um belo quadro.

E eu me vejo entre o quadro e a outra realidade que se aproxima a cada dia, sem saber pra que lado vou. Organizo as ideias, respiro fundo e tento ter uma visão acurada. Mas que lente mais embaçada é essa? "Ah, Stephanie, você sempre se esquece que sentimento a gente não racionaliza."

É. Eu também me esqueço de que muito muda com uma palavra, com um gesto - ou com a falta de ambos. Me esqueço que o tempo devora tudo. Que me sentir idiota, culpada ou com raiva de mim mesma é sentença de morte. Que sentimento embaça a lente e impede a visão do limite entre verdade e aparência; entre sensatez e ridículo. 

E fico aqui, no momento da transição, sem ousar me mover ou decidir pra que lado vou. Colecionando todos os cheiros e toques e olhares e palavras e instantes; guardando todos pro quadro que vai me acompanhar depois dessa realidade virar memória. 

domingo, 1 de janeiro de 2012

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"Nesse meio tempo, vamos abolir com um sopro o tique-taque dos relógios. Chegue mais perto de mim." (V.Woolf)