segunda-feira, 15 de junho de 2009

.Flush.

*Flush= rubor, resplendor.

Era uma grama macia. Eram soldados gritando 'Span! Span!'. Eram cheiros livres, de vento, de sol, (e,mais uma vez, de grama macia) que se tornaram odores de eau de cologne num escuro quarto mofado.

Foram sensações ilimitadas - pois que eram sensações libertas das correntes da linguagem. Foram experiências marcadas pela corrente da coleira; pelo escuro quarto mofado; pelo horror daqueles dias de prisão: sem água limpa e sem afeto. Mas, não, ele nunca foi impedido pela coleira do discurso.

Os, cheiros, os gostos, as reações alheias e os insights instintivos se entrecruzam e se transformam num emaranhado de possíveis experiências posteriores, já que produzem um tipo de raciocínio selvagem. Raciocínio não no sentido humano; mas no âmbito da causalidade, de uma causalidade natural e intrínseca aos animais - a todos eles. Que se apóia no agir instintivo; agir que aprende com as experiências passadas e acostuma-se aos efeitos das causas já percebidas.

Pensar sobre as sensações de um ser distinto do ser humano incomoda - pensar sobre algo que ultrapassa as fronteiras da linguagem é desafiador para um simples indivíduo mundano e humano.

Mas a causalidade natural que se apóia nos instintos ainda repousa nos seres humanos, ainda pesa muito na balança (e quem sabe até pesa mais que essa dita razão?). E o instinto, nesse momento, me manda arriscar; me manda entrar nessa mata, nesse selvagem que é o não-humano. Onde nunca poderei alcançar concreta e realmente.

Mas, bom, se ainda puder encostar a mão naquela lisa e fina superfície que nos separa tanto do selvagem, do não-pensar humano - ou do pensar não-humano? -, se ainda puder...

Que o acaso me guie.

(E que o rubor de Flush me faça sentir viva.)

**

Um comentário:

  1. "Pensar sobre as sensações de um ser distinto do ser humano incomoda - pensar sobre algo que ultrapassa as fronteiras da linguagem é desafiador para um simples indivíduo mundano e humano."

    Te incomoda?
    Em mim faz pensar sobre fronteiras. Se não-humano também é mundo, que é multiplicidade, em que consta humano também, esse mundo não se constituiria de relações? E se for assim até que ponto o não-humano é realmente para nós intangível ou de realidade autônoma? Num cosmos de relações existe algo mesmo que escapa da Linguaguem ou somos nós que não aprendemos a olhar? E aí a linguagem se ressignifica? E a existência?

    Se me incomoda não sei, mas admira e como quase nunca Aristóteles me entenderia.
    E se vc pede acaso te enderia também.
    Mas justamente aí, no teu caso particular, discordo dele e me afasto: sem acasos num trabalho bonito que vai surgir por natureza...


    [vai sair maravilhoso, florzinha. confio em vc. muito.]

    ResponderExcluir