quinta-feira, 28 de julho de 2011

"É chegada a hora de escrever e cantar..."

Hoje foi um dia bom.

Acordei pensando no que eu tinha e no que eu queria fazer ao longo do dia. E ambos, curiosamente, coincidiram: o que eu tinha pra fazer era o que eu queria. A manhã passou ligeira e produtiva: algumas páginas entendíveis de Kant são pequenas alegrias diluídas em argumento.

Andei pensando muito sobre coisas sem sentido, até conseguir enxergar algum sentido nessas coisas; talvez por inclinar-me mais a alguma opinião tendenciosa, ou talvez não. Penso que nós inevitavelmente fazemos nosso sentido, cada um de nós.

A liberdade é uma sensação peculiar. Ela está sempre aqui, latente; mas dificilmente é sentida e quase sempre fica marginalizada em mim, como se eu fosse um carrasco me punindo a todo instante - justamente nos momentos em que a dita liberdade ameaça emergir. Mas me pergunto: por que ser carrasco de mim? Pra quê ser carrasco de mim?

Acordei sentindo a liberdade tomando conta de mim. Isso pode parecer piegas e clichê, mas é justamente por causa dessa liberdade que eu digo: que seja piegas e clichê, foda-se. A minha liberdade em sentir liberdade não se importa mais com isso. O carrasco agora caiu do pedestal, quebrando-se em tantos pedaços que sua restauração se tornou impossível.

Respiro o ar fundo e vejo um horizonte de possibilidades se reabrindo pra mim: um horizonte que sempre esteve aqui, mas cuja neblina me impedia de enxergar. Não que não haja mais neblina: ela é essencial, pois sem ela não há o mistério, que me é tanto estimado. É só que agora descobri que posso andar por entre a neblina sem me assustar a todo momento com o desconhecido; pois agora a neblina é leveza, e não temor; é mistério, e não insanidade. É até possível enxergar algumas coisas próximas, ou se aproximando - e é bom senti-las assim, naturalmente, sem dor. Sem peso.

Demorou e doeu. Mas agora retorno ao mundo, querendo-o - e me querendo - novamente por inteiro.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre Mortes.

A minha morte é lenta.
É daquelas que fazem o corpo se debater, num incessante movimento involuntário de angústia, melancolia e aflição.
A minha morte é grande.
É daquelas que se passam num imenso teatro, em dia de estreia, de casa lotada e público exigente.
A minha morte é carne.
É daquelas que sangram, que trazem no suor salgado a essência daquilo que deve ser expelido.
Deliciando-se com os músculos exaustos que lutam pra manter o controle, ela, a minha morte, sedenta de medo e ilusão, ultrapassa os limites da própria carne, explodindo as veias e nervos e quebrando as articulações; o suor e o sangue se misturam e correm pela minha pele, formando um mosaico púrpura com sutis linhas rosadas - que me lembram o pôr-do sol de uma tarde de outono.
A minha morte é parto.
É o mesmo pôr-do-sol brilhante e púrpura que explode em cor e luz. É o rebentar do eu que enfim consegue respirar, depois de tanto tempo preso na mente e no peito.
"Rebento", como diria uma grande artista. Rebento em força e dor, em coragem e entrega, seguindo paradoxalmente nesse corpo rebentado e morto de tanta vida.




segunda-feira, 11 de julho de 2011

Eu não sei falar de amor.

Se me perguntarem: "o que você sente?", e eu não souber responder, não é por vazio, é só por indeterminação. (ou será que é por vazio?)

Por outro lado, não sei não ser melancólica a todo instante; no que sinto, no que penso e no que digo. Posso parecer clichê às vezes; posso parecer forçada. Mas mais forçado seria tentar me expressar de outra maneira.

Sei que isso não faz o menor sentido, e nem é pra fazer mesmo.

É que eu não sou capaz de pedir respostas que não sei se quero ouvir; mas ficaria bem feliz de ouvir respostas sem precisar de pedi-las. É o mínimo de consideração que espero: pelo que foi. Pela sinceridade que sempre tive, mesmo com relação a fatos que sempre soube serem culpa minha.

Não quero explicação, e nem pretextos, e nem escusas. Não quero nada, na verdade. Nem sei mais o que queria. Aliás, sei: queria saber falar de amor.