quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre Mortes.

A minha morte é lenta.
É daquelas que fazem o corpo se debater, num incessante movimento involuntário de angústia, melancolia e aflição.
A minha morte é grande.
É daquelas que se passam num imenso teatro, em dia de estreia, de casa lotada e público exigente.
A minha morte é carne.
É daquelas que sangram, que trazem no suor salgado a essência daquilo que deve ser expelido.
Deliciando-se com os músculos exaustos que lutam pra manter o controle, ela, a minha morte, sedenta de medo e ilusão, ultrapassa os limites da própria carne, explodindo as veias e nervos e quebrando as articulações; o suor e o sangue se misturam e correm pela minha pele, formando um mosaico púrpura com sutis linhas rosadas - que me lembram o pôr-do sol de uma tarde de outono.
A minha morte é parto.
É o mesmo pôr-do-sol brilhante e púrpura que explode em cor e luz. É o rebentar do eu que enfim consegue respirar, depois de tanto tempo preso na mente e no peito.
"Rebento", como diria uma grande artista. Rebento em força e dor, em coragem e entrega, seguindo paradoxalmente nesse corpo rebentado e morto de tanta vida.




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