segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pois é.

    Quando eu tenho algo a dizer, quase sempre me esqueço das palavras e quase nunca encontro o momento certo pra dizê-las. A boca insiste em falar de trivialidades e o olhar se desvia, tímido, acanhado e vencido. O que quero dizer se refere a uma realidade, que não é meramente possível, mas que é concreta, ainda que queira ser exprimida em forma de palavra, apenas - apesar de poder ser sentida de maneiras não-linguísticas.
     Mas o que é dito pode exprimir aquilo que quero dizer? Aquilo que realmente quero dizer, que existe em mim de maneira desajeitada e até um pouco velada, como algo que se guarda com cuidado pra não quebrar?     Afinal, o que eu quero dizer? Se não sei colocar em palavras, não sei o que quero dizer. 
     Então não digo.
     Mas e quando o problema não é saber o que se quer dizer, mas simplesmente ter medo de dizer? Medo de sentir, de admitir, de baixar a guarda, de dar a cara a tapa e de não-se-sabe-mais-o-quê. Medo de viver, em resumo. No entanto, eu vivo, inevitavelmente.
     Mesmo que as palavras não venham e mesmo que o momento nunca seja oportuno pra dizer coisa alguma, eu vivo, ignorando todos os inúmeros devaneios e antecipações 'sensatas' de uma pessoa tipicamente ansiosa e insegura como eu. E vivo mais ainda, pra sentir o que não é exprimido por palavras e fazer o que pode ser expressado sem elas. 

(É curioso: depois de tudo que escrevi, sinto que acabei dizendo em outras palavras o que tanto reluto em dizer de forma simples e clara. E se isto está aqui, visível, me parece que esse medo tem sido extraído vagarosamente ao longo do tempo, mostrando suas marcas apenas na prolixidade com a qual me exprimo. Falo em mil palavras o que pode ser dito com um par delas, tentando, talvez, preservar a peculiaridade do sentimento, com mil descrições detalhadas dos poréns e dos porquês. Mas, no fim, chego no mesmo lugar, ou pelo menos pareço chegar. Quem sabe um dia não corro o risco de tentar o caminho mais simples?)


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