segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Lar

Os cigarros se multiplicam no cinzeiro, mas ela não vê.

As cortinas abertas clamam por raios de sol, fagulhas cintilantes que clareiam o quarto. E num quarto que não é seu, rogando pela luz que não é sua, ela se desmancha no caos que, sim, é dela.

Indiferente ao ruído familiar, mergulha agora no que nunca viu, ou sentiu, ou aprendeu, ou foi: estalar longínquo que insiste em reclamar lugar, em pertencer, ensimesmar-se.

O lar que a reclama de dentro de si é ofuscado pela luz que não é sua, pelos raios de sol que as cortinas não conseguem tampar.

A dança das luzes se arrasta preguiçosa pelos dias.

Eventualmente, escurecerá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário